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100 dias de Milei: forte ajuste econômico e inflação ainda alta

Presidente da Argentina tomou posse em dezembro e bateu de frente com o que chama de “casta política” do país, mas implementou um forte ajuste fiscal; inflação ainda é alta, mas taxa mensal desacelerou

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O governo do presidente da Argentina, Javier Milei, completou 100 dias e a mídia local e internacional tem feito um balanço do desempenho até aqui. Uma constatação é que a administração do político ultraliberal fez fortes progressos para a correção dos desequilíbrios macroeconômicos do país, mas que a inflação continuou a preocupar as famílias, uma vez que houve uma desvalorização cambial, com ajuste dos preços relativos.

Numa análise política, o jornal Clarín destacou que Milei caracterizou esse período pelo centralismo, focando a mudança que ele está imprimindo ao país e tentando fortalecer sua imagem de liderança pessoal no processo. No entanto, isso também teria gerado algumas derrotas no Congresso, uma vez que ele partiu para a confrontação com que definiu como a “casta política” do país.

Por conta disso, todas as mudanças que conseguiram ser feitas até agora foram por meio de medidas administrativas e de resoluções do ministro da Economia, Luís Caputo, que não dependiam da aprovação de deputados e senadores, uma vez que Milei tem minoria no Congresso.

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O ajuste fiscal em curso, simbolizado pela figura da motosserra, foi uma dessas mudanças, mas tanto o Decreto Nacional de Urgência (DNU) de Milei, apelidado de “decretaço” por envolver mais de 300 medidas de desregulação econômica, quanto o Projeto de Lei de Bases, enviados em dezembro, estão com muita dificuldade de tramitação nas casas legislativas.

Ele lançou anda a ideia de um grande pacto social, que chamou de “Pacto de Maio” a ser assinado na cidade de Córdoba, no dia 25 de maio. O plano tem dez princípios básicos para levar o país ao que seria uma “nova ordem econômica”, mas precisa de muito apoio político para prosperar, especialmente dos governadores das províncias.

Custo das mudanças

O preço cobrado pelo ajuste ainda é alto. A inflação continuou a afligir a população, embora sob Milei a taxa mensal tenha recuado de 25% em dezembro para 20% em janeiro e 13,2% em fevereiro. Uma projeção recente do semanário argentino Perfil previu que essa taxa poderia se situar em torno de 7% até julho.

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A agência alemã Deutsche Welle lembra que o Observatório Social da Universidade Católica (UCA) constatou que a pobreza aumentou de 45% para 57% na Argentina. Ao mesmo tempo, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) espera que a taxa de pobreza infantil do país suba de 62% para 70%.

O jornal Pagina12, crítico ao governo, destacou que vários setores da economia tem sofrido com o novo governo, como o da construção, que perdeu 100 mil empregos diretos durante o período. A dívida do Estado com as empresas do setor já teria atingido 150 bilhões de pesos, enquanto as empresas são pressionadas a não cumprir as obrigações e a repassar esta perda aos seus fornecedores e ao resto da cadeia de abastecimento.

Câmbio

Sobre o comportamento do câmbio, o jornal Ámbito Financiero lembra que nestes 100 dias, o dólar livre alinhou as expectativas de desvalorização com a política monetária do governo e, de fato algumas cotações subiram a um ritmo mais lento que a taxa oficial. Nos últimos dias, a cotação tem se mostrado relativamente estável, em torno de 1.000 pesos.

Segundo Facundo Herrera, analista do Grupo IEB, apesar da desvalorização que levou o câmbio de US$ 360 para mais US$ 800 (na cotação oficial do BC)  e do acúmulo de inflação de 70% nos primeiros três meses de gestão, a cotação CCL, muito utilizado por investidores, permaneceu semelhante à taxa de meados de dezembro.

Já o economista Gustavo Ber afirma que a implementação imediata do equilíbrio fiscal e do aperto monetário despertaram confiança de que será possível desacelerar a inflação.

Milei disse recentemente que estão sendo criadas as condições para retirada de todos os controles cambiais no país, o chamado “cepo”, mas que ainda é necessário que as reservas cresçam um pouco mais, para evitar novas pressões inflacionárias.

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