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Análise: Herdeiro de Trump, Vance consolida domínio populista no Partido Republicano

Democratas e republicanos anti-Trump acreditavam que o trumpismo dominaria o Partido Republicano apenas enquanto o próprio candidato estivesse presente. Mas o discurso de Vance praticamente acabou com essas esperanças

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O discurso de estreia do senador JD Vance como candidato a vice-presidente pelo Partido Republicano foi uma demonstração incisiva dos ativos mais poderosos que ele oferece à campanha de Donald Trump: uma mensagem econômica fortemente populista adaptada para os principais estados-pêndulo e um símbolo de mudança geracional.

Em seu discurso na quarta-feira na Convenção Nacional Republicana, Vance prometeu que ele e Trump não irão mais “atender aos interesses de Wall Street” e, em vez disso, “se comprometerão com o trabalhador”.

Ele lamentou os acordos comerciais, que segundo ele resultaram no fechamento de fábricas — pontos sensíveis nos estados industriais de Michigan, Pensilvânia e Wisconsin. E ele criticou os desafios desde o aumento dos custos habitacionais até o impacto do fentanil, retratando uma América em que setores amplos de eleitores foram abandonados por Washington e Wall Street.

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“A classe dominante da América escreveu os cheques; comunidades como a minha pagaram o preço”, disse Vance à multidão em Milwaukee, apenas dois dias depois de Trump tê-lo escolhido como companheiro de chapa.

Em um discurso que serviu como introdução de Vance aos eleitores, ele apresentou estrategicamente sua biografia, destacando sua relativa juventude em comparação com o presidente Joe Biden, de 81 anos, que enfrenta uma revolta dentro de seu próprio partido devido a preocupações com sua idade.

Vance, de 39 anos, observou que estava na quarta série quando Biden apoiou o Nafta e era um aluno do último ano do ensino médio quando o presidente apoiou a invasão do Iraque.

Democratas e republicanos anti-Trump acreditavam que o trumpismo dominaria o Partido Republicano apenas enquanto o próprio candidato estivesse presente. Mas o discurso de Vance — uma adesão total ao populismo e a uma política externa de “América em primeiro lugar” que o estabeleceu como o herdeiro óbvio do velha guarda do partido — praticamente acabou com essas esperanças.

“Por décadas, a divisão entre os poucos, com seu poder e conforto em Washington, e o restante de nós só aumentou”, disse Vance. “Do Iraque ao Afeganistão, da crise financeira à Grande Recessão, das fronteiras abertas aos salários estagnados, as pessoas que governam este país falharam repetidamente”.

Enquanto os republicanos têm criticado Biden em relação à economia, os dados mostram um forte crescimento do emprego e a desaceleração da inflação. A administração também destacou números que mostram uma diminuição no número de migrantes cruzando a fronteira depois que Biden tomou medidas executivas para restringir as solicitações de asilo.

A narrativa de Vance sobre a história do livre comércio e da política externa intervencionista dos EUA omite o fato de que esses eram princípios fundamentais da visão do Partido Republicano para a América.

“História cativante”

Vance chamou a atenção da classe política pela primeira vez com seu livro de memórias “Hillbilly Elegy”, traduzido no Brasil como “Era uma vez um sonho”, que retratava sua criação pobre no meio rural. Essa história pessoal foi central em seu discurso na quarta-feira.

“Apesar do fechamento de fábricas e do aumento da dependência em cidades como a minha, na minha vida, eu tinha um anjo da guarda ao meu lado”, disse Vance sobre sua avó. “Ela era uma mulher idosa que mal conseguia andar, mas era resistente como uma rocha.”

Conectar-se com os eleitores por meio de sua biografia será fundamental para seu papel na campanha, na qual ele buscará aproveitar a frustração expressa por muitos americanos em relação à maneira como Biden está lidando com a economia.

“Acho que ele tem uma história muito cativante e é uma história de sobrevivência. Isso é necessário em um líder”, disse Lisa Dyer, delegada do Texas, antes de seu discurso.

O foco de Vance no Meio-Oeste e na política econômica pontuou seus comentários. Ele criticou a invasão de importações baratas da China e lamentou a perda de empregos na indústria manufatureira — uma tendência que tanto Trump quanto Biden buscaram estancar. Ele disse que os republicanos estão lutando pelos trabalhadores do setor automotivo em Michigan, pelos funcionários de fábricas em Wisconsin e pelos empregados do setor de energia na Pensilvânia.

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Em certo momento, ele pediu calma de forma bem-humorada aos delegados que representavam seu estado natal, Ohio, enquanto eles o aplaudiam. “Temos que vencer em Michigan também”, disse ele.

Uma vitória de Trump e Vance abriria caminho para uma agenda econômica que visa renovar cortes de impostos que venceram, reduzir regulamentações e impor tarifas a outras nações – incluindo a China, a segunda maior economia do mundo. Novas tarifas ameaçam causar estragos no comércio global e elevar os preços para os consumidores americanos.

Trump e Vance também são críticos dos bilhões gastos em ajuda à Ucrânia, o que preocupa os aliados dos EUA no exterior. Trump se vangloriou de que, se eleito, poderia encerrar a guerra.

No entanto, o discurso de Vance não se concentrou muito na guerra na Ucrânia — uma área latente na qual os republicanos têm diferenças acentuadas dentro do partido. Ele também não deu ênfase ao aborto, uma questão em que Trump não está alinhado com alguns evangélicos.

“Mundo dos homens”

O discurso de Vance encerrou a terceira noite da convenção, na qual Trump entrou na arena bombeando o punho enquanto a música “It’s a Man’s Man’s Man’s World” tocava nos alto-falantes.

Os esforços de Biden para contra-programar a convenção republicana na quarta-feira foram frustrados quando ele testou positivo para Covid-19, o que o impediu de se dirigir a um proeminente grupo de defesa dos direitos dos latinos em Nevada. A doença do presidente aumenta as preocupações democratas sobre sua idade e agilidade mental.

Ao mesmo tempo, os democratas já se apressaram em definir Vance, com Biden o descrevendo como um “clone de Trump em questões políticas”.

A campanha de Biden chamou Vance de “garoto-propaganda” do Projeto 2025, um amplo plano sendo elaborado por ex-conselheiros de Trump que visa reestruturar o governo federal e implementar políticas socialmente conservadoras.

Reforçando a mensagem

Logo após a convenção, a campanha de Trump pretende levar Vance para muitos eventos nos estados-chave, segundo uma autoridade da campanha.

Vance precisara caminhar por uma linha tênue nessas aparições. Trump é conhecido por favorecer colegas com o que ele chama de carisma e aparência de “elenco principal” — mas também nunca quer que sua estrela brilhe mais do que a dele.

Trump escolheu Vance em parte devido a um forte esforço de lobby de seu filho, Donald Trump Jr. Para o filho e sua equipe de estrategistas políticos experientes e obcecados pela internet, Vance representa a próxima geração do movimento de Trump.

“Ele é o único cara nesse movimento que é um político contemporâneo e realmente fala com as pessoas do ‘América Primeiro’”, disse Donald Trump Jr. na terça-feira em um evento patrocinado pelo Axios.

Os assessores e conselheiros de Trump também apreciam a habilidade de Vance de ir à TV e defender o ex-presidente, confrontando os comentaristas — sem mencionar seus debates contra a vice-presidente Kamala Harris.

“Ele reforçará a mensagem que Donald Trump tem transmitido”, disse Pete Hoekstra, presidente do Partido Republicano de Michigan.

© 2024 Bloomberg L.P.

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REFLEXÃO: Eddy Elfenbein, dono do site Crossing Wall Street: Seja paciente e ignore modismos. Foque no valor e não entre em pânico.

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