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Crise energética vira problema global e ameaça retomada econômica pós-pandemia

Enquanto os brasileiros lidam com escassez hídrica, Reino Unido tem falta de combustíveis e China paralisa fábricas para reduzir consumo de energia

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Edição MarketMsg e invistaja.info

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BRASIL | invistaja.info — Já faz alguns meses que a escassez de chuvas tem encarecido o preço da energia no Brasil, elevando a inflação do país e mexendo também com as ações do setor na Bolsa brasileira. O cenário se agravou ao ponto de ser criada uma nova bandeira tarifária chamada “escassez hídrica”, que deve vigorar até o final de abril do ano que vem. Até o próprio presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse que não é possível garantir que não haverá apagões. Mas, nos últimos dias, ficou claro que crise energética não é um problema exclusivo do Brasil.

Em poucas linhas, o economista-chefe da gestora Julius Baer resumiu a sucessão de eventos recentes. “Preços do petróleo chegando nas máximas em meses, a Europa enfrentando preços recordes de energia e gás natural, o Reino Unido sofrendo com escassez de combustíveis nos postos, enquanto a China faz cortes de energia e fecha fábricas”, escreveu Norbert Rücker.

O economista fala em um choque de oferta. Diz que a indústria se recuperou muito rápido da queda de produção do ano passado, quando foi afetada pela pandemia de Covid-19, e agora está sobrecarregando a cadeia de fornecimento de energia. O timing não podia ser pior. A crise energética já começa a ter alguns reflexos na cadeia de suprimentos, justamente em um momento que era para ser de retomada econômica.

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O chefe-global de pesquisa de commodities do Goldman Sachs, Jeff Curie, deu uma explicação polêmica para esse cenário, dizendo que a crise é resultado da falta de investimentos em fontes tradicionais de energia, como gás e carvão. “Em muitas partes do mundo, houve muita construção eólica, muita construção de energia solar. A nova economia está superinvestida, e a velha economia está faminta”, afirmou.

China no epicentro da crise

Relatório do Bradesco BBI, assinado por Thiago Lofiego, cita dados do governo chinês que mostram um descompasso entre oferta e demanda: enquanto o consumo de energia no país aumentou 13,8% entre janeiro e agosto deste ano, a geração cresceu 11,3%, ou seja, em ritmo menor.

Agora em setembro, a China engatou esforços para descarbonizar a economia do país, colocando em prática metas de redução de emissões. Para isso, pretende diminuir o consumo de energia em 13,5% até 2025. Mais da metade da indústria chinesa consome energia à base de carvão. Os cortes estão afetando residências e fechando fábricas. As previsões de crescimento para a economia chinesa neste ano já estão sendo revistas. O Goldman Sachs reduziu a expectativa de crescimento do PIB chinês de 8,2% para 7,8%. O Nomura foi pelo mesmo caminho, reduzindo a previsão de 8,2% para 7,7%.

“Mais de 70% das indústrias de aço em Jiangsu, segunda maior produtora de aço da China, está sendo afetada pelo racionamento. […] E é improvável que as interrupções sejam suspensas antes da segunda semana de outubro”, diz o relatório do Bradesco BBI.

Segundo a consultoria Mysteel, mais de 80 siderúrgicas no país suspenderam suas atividades. Os cortes podem reduzir a demanda por minério-de-ferro e têm pressionado o preço da matéria-prima nos últimos dias. 

O Morgan Stanley calcula que os cortes de energia, caso se prolonguem, podem reduzir em até um ponto percentual o PIB da China no quarto trimestre deste ano. “Estimamos que o corte de emissões poderia reduzir em até 9% a produção de aço bruto entre setembro e dezembro. Enquanto isso, 7% da produção de alumínio foi suspensa e 29% da produção nacional de cimento foi afetada”, afirma relatório do banco.

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Efeito cascata

Segundo informações da Reuters, alguns fornecedores da Apple e Tesla suspenderam a produção em fábricas chinesas por alguns dias para atender às políticas de redução de consumo de energia. As interrupções acontecem em um período de pico produtivo para bens eletrônicos, com a Black Friday e datas festivas no radar. A medida afeta fabricantes de chips, placas de circuito e outros componentes.

“A princípio estávamos vendo faltar chips aqui no Brasil para fabricação de carros e agora pode ser que faltem outras coisas. A indústria chinesa poderá reduzir a produção de vários componentes que ela exporta”, afirma Isabel Lemos, gestora de ações da Fator.

O corte de energia e a interrupção das indústrias podem também afetar o desempenho das ações da Vale (VALE3), avalia Jennie Li, estrategista de ações da XP. “O minério de ferro acaba sendo uma matéria-prima muito importante para nós, pois está muito relacionado com o preço da Vale, que é a ação com maior posição no Ibovespa“, explica.

Além disso, há o risco de aumento da inflação global. “Se os preços do petróleo, gás natural e carvão continuarem subindo, vamos continuar vendo a inflação global em alta. Aqui no Brasil, o consumo em geral seria afetado”, afirma Jennie Li.

Norbert Rücker, da Julius Baer, acredita que a crise energética que se desenha é um fenômeno de curto prazo e transitório, uma vez que vê a dinâmica atual como característica em um momento de pico de ciclo econômico.

O Morgan Stanley, por sua vez, prevê que a China ajuste o ritmo dos cortes de energia até o final de outubro, diante das pressões de baixo crescimento econômico. “Pequim vai precisar impedir uma rápida deterioração de crescimento da economia que poderia trazer riscos ao mercado de trabalho e à estabilidade social do país”, dizem os analistas do banco.

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