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Ação da Cielo dispara com “luz no fim do túnel” após balanço do 4º tri, mas por que os analistas seguem cautelosos?

Empresa teve alta de lucro com estratégia acertada em pequenas e médias empresas e foco em redução de custos, mas desafios estruturais seguem no radar

Brasil | invistaja –

SÃO PAULO – A temporada de resultados do quarto trimestre de 2020 começou muito positiva para a Bolsa brasileira, com a Cielo () registrando bons números nos últimos três meses do ano passado e levando a uma disparada das ações

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Isso após um 2020 para se esquecer, com os papéis CIEL3 registrando queda de 52%, a quarta maior queda do Ibovespa no período.

Os números vieram bem acima do esperado para a maior empresa de meios de pagamentos do país, com destaque para o lucro líquido, por uma combinação de foco no segmento mais lucrativo de pequenos clientes e uma política de redução de custos. Isso acabou por compensar os efeitos da queda de clientes e os prolongados efeitos da crise gerada pela Covid-19, ainda que a retomada da economia no período tenha ajudado também a impulsionar os dados da empresa.

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O lucro líquido atribuído à companhia fechou em R$ 298,2 milhões no trimestre, um crescimento de 34,7%  em relação ao ano passado, totalizando R$ 490,2 milhões para 2020, ainda que 68,3%o inferior ao lucro de 2019 atribuído à empresa. Em termos consolidados, que consideram resultados de outros acionistas, o lucro foi de R$ 362,8 milhões, alta anual de 26,5%. Foi a primeira alta trimestral do lucro da companhia no comparativo anual em dois anos.

A Cielo ainda conseguiu reduzir em 13,5% seus gastos totais no comparativo anual, para R$ 1,077 bilhão. E a ênfase nos segmentos mais rentáveis compensou a queda de 10,8% na base ativa no ano, a 1,406 milhão de clientes. A companhia atribuiu esses números à mudança na política de concessão de subsídios para terminais de captura na modalidade de venda, o que impactou principalmente as afiliações no segmento de empreendedores.

Com tais números, a avaliação foi praticamente unânime de que a empresa voltou finalmente a mostrar porque é uma das mais tradicionais da Bolsa, apesar do recente baque dos ativos. Com isso, os papéis chegaram a disparar mais de 12% e acima dos R$ 4, com fortes ganhos durante toda a sessão desta quarta-feira (27) mesmo em uma sessão de volatilidade para o índice.

Se, nos comentários de resultados do segundo trimestre, o Bradesco BBI apontou que a companhia vivia uma tempestade perfeita com números bem abaixo do esperado e perda de participação de mercado, desta vez os analistas Victor Schabbel  e Sofia Viotti destacaram: “há uma luz no fim do túnel – e não é um trem”.

O Credit Suisse também avaliou que a companhia está na direção certa, reportando fortes resultados e  com o lucro líquido superando o consenso em 47%. A melhoria do resultado final foi consequência de um melhor desempenho nas divisões Cielo Brasil e Cateno, uma vez que o crescimento da TPV, ou ou Volume Total de Pagamentos, mostrou uma nova recuperação e a empresa conseguiu implementar fortes iniciativas de redução de custos no trimestre.

O banco destacou a alta de 8% no volume total de pagamentos da Cateno, frente a alta de 1% no terceiro trimestre. Houve alta de 15% no volume de débitos na comparação anual. Os analistas do banco suíço acreditam que os resultados podem ser um prenúncio de um ano de 2021 melhor para a Cielo, com melhoras nas operações das subsidiárias.

Após o resultado, o Bradesco BBI elevou as estimativas de lucro líquido em 13% para 2021, para R$ 881 milhões, o que corresponde a uma alta de 80% na comparação anual. “Para 2022, deixamos nossas projeções praticamente inalteradas, mas com espaço para uma alta agora”, avaliam. Os analistas apontam que ocorreram nítidas melhorias nos negócios de adquirência e emissão no Brasil.

“A deterioração nos últimos três anos parece ter atingido um piso, levando-nos a esperar dias melhores daqui para frente. Embora ainda haja algum dever de casa a ser feito, como o desinvestimento da subsidiária americana Me-S, ou Merchant e-Solutions e a melhoria da estrutura corporativa geral da empresa, há sinais claros de que o pior já passou. Estamos, portanto, mais construtivos sobre o caso de investimento neste momento, com a Cielo como a segunda melhor opção, atrás apenas da Stone na área de pagamentos”, apontaram os analistas do BBI.

Durante teleconferência com jornalistas, aliás, a companhia apontou que vai vender alguns ativos não essenciais enquanto aguarda aval do Banco Central para uso do WhatsApp em pagamentos e amplia a oferta de produtos de crédito, como parte da reformulação do negócio para focar em pequenos lojistas.  Posteriormente, Gustavo Sousa, CFO da Cielo, destacou em outra tele que a venda da subsidiária Merchant e-Solutions pode ser avaliada.

Paulo Caffarelli, presidente-executivo da companhia, falou mais sobre a nova estratégia da companhia, destacando que “não há mais como uma empresa de pagamentos se manter no mercado apenas como uma adquirente pura” e apontando que o plano de ampliar produtos de financiamento deve crescer nos próximos meses. Isso após a Cielo ter recebido aval de seus controladores, Bradesco (;) e Banco do Brasil () para ter uma sociedade de crédito direto.

Assim, após já ter dobrado o percentual dos clientes de sua base que demandaram antecipação de recebíveis ou outras modalidades empréstimo, para 33% no quarto trimestre, a Cielo pretende elevar esse nível para 40% até o fim de 2021.

O executivo da companhia ainda afirmou acreditar que receberá até junho autorização do Banco Central para uso em pagamentos do WhatsApp, do Facebook.  A parceria anunciada em junho do ano passado foi suspensa pelo BC, que a autorizou inicialmente apenas para testes.

Melhora pontual ou duradoura? Cautela segue no radar

Em meio a boas notícias que estão fazendo o papel saltar, a pergunta que fica é se a melhora é pontual ou se ela realmente veio para ficar. Victor Hasegawa, gestor da Infinity Asset, aponta ter uma visão positiva em meio a maior assertividade da gestão da companhia em pequenas e médias empresas e avaliando que o quarto trimestre de 2020 veio consolidar a expectativa de melhora que já vinha desde novembro. “Atualmente, a posição vendida [dos que apostam na queda da ação] é pequena, indicando que o papel pode voltar a ficar acima de R$ 4 ou até mais perto de R$ 5”, ressalta. Na véspera, as ações fecharam a R$ 3,67.

De qualquer forma, os desafios seguem no radar, o que faz com que a maior parte das casas de análise que cobre o papel, ainda que tenha ficado mais otimista com o balanço, siga com recomendação neutra para o ativo em meio ao cenário competitivo ainda bastante duro, além de questões societárias pesando sobre a cotação.

Na avaliação do Morgan Stanley, volumes e receitas mostraram a recuperação mesmo com o ambiente desafiador e o  mercado pode recompensar isso no curto prazo. Mas o banco diz ainda avaliar que a Cielo enfrentará desafios significativos.O Morgan Stanley mantém avaliação em equal weight (perspectiva de valorização dentro da média do mercado), e preço-alvo de R$ 4.

Na avaliação do Credit, o maior risco para a Cielo é o fato de que a concorrência também está se preparando para disputar o mercado. O banco mantém recomendação neutra, com preço-alvo de R$ 4,80. Com um preço-alvo um pouco maior, de R$ 5, o BBI também tem a mesma recomendação, apesar de avaliar que o valuation está ficando cada vez mais atrativo em relação aos pares do setor como Stone e PagSeguro. Além disso, o mercado pode se tornar cada vez mais positivosobre o case de investimento, levando em conta venda de ativos.

Também entre os “neutros” com a ação, o Bank of America avalia que a companhia está na direção correta, mas as tendências operacionais centrais com a operação no Brasil seguem preocupando, com a recuperação dos volumes sendo compensada pela deterioração da receita por volume e dos resultados de antecipação, bem como pela queda da base de clientes. O preço-alvo é de R$ 5,80.

De acordo com dados da Refinitiv, de 15 casas que cobrem o papel, 10 possuem recomendação neutra, 3 de venda e somente 1 de compra, possuindo preço-alvo médio de R$ 4,74, alta de 29,16% em relação ao fechamento de R$ 3,67 da véspera, mostrando que boa parte dos analistas segue cautelosa com o papel, ainda que o atual patamar de preços possa levar a oportunidades.

A Levante Ideias de Investimentos ressalta que o resultado da Cielo se mostrou animador, com melhorias claras frente aos outros trimestres do ano, porém a companhia continua com desafios estruturais ao seu modelo de negócios.

“Apesar de líder, a Cielo vem perdendo participação no mercado consistentemente. Para conseguir se manter competitiva, a companhia teve que ajustar seus preços para baixo sucessivamente nos últimos anos e a receita extraída por volume transacionado (revenue-yield) que chegou a 1,17% no primeiro trimestre de 2017 foi de 0,69% neste trimestre.

Os analistas ainda apontam que o setor de pagamentos está sendo marcado por uma redução das taxas praticadas, tendência vista no mundo inteiro e que é intensificada no Brasil devido a um aumento de concorrência e maior digitalização do mercado.

Para a Levante, contudo, mesmo com um cenário de longo prazo desfavorável, há alguns catalisadores para as ações da companhia. Entre eles, está uma melhora mais acelerada da economia e mais novidades com relação a parceria com o WhatsApp.

Outra questão que segue no radar dos investidores é sobre a notícia de que o BB poderia sair da Cielo, com o Bradesco comprando essa participação. Na véspera, o colunista Lauro Jardim, do jornal O Globo, destacou a notícia, o que impulsionou uma alta de mais de 7% do papel CIEL3, mas sem dar mais detalhes de como seria a operação.

Assim, apesar da Cielo ter mostrado que a sua estratégia está sendo bem sucedida e que há uma luz no fim do túnel para ela, boa parte do mercado segue cautelosa com a ação.

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