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Fim da “grande moderação”? Estagflação pós-pandemia não será pontual, diz Nouriel Roubini

Para economista conhecido como Doutor Catástrofe, bancos centrais estão na “armadilha da dívida” e correm risco de levar países à recessão caso elevem juros

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BRASIL | invistaja.info — Baixo crescimento e alta inflação – em outras palavras, estagflação – é o panorama econômico global dos próximos anos na visão de Nouriel Roubini, economista turco-americano e professor da Stern School of Business, da Universidade de Nova York. Conhecido como “Dr. Doom” (ou “Doutor Catástrofe”, em português), Roubini explicou, durante o Anbima Summit 2021 na noite de terça-feira (26), por que esse contexto não é pontual como acreditam os “otimistas”, em suas palavras.

“A era da ‘grande moderação’, quando a inflação foi baixa, nos últimos 30 anos, acabou. A perspectiva de médio prazo é de possível estagflação. É uma visão controversa, não é consenso”, disse Roubini. Para ele, esse não seria um horizonte passageiro porque o cenário de alta de preços e de baixo potencial de crescimento econômico não é transitório.

O professor esclareceu como o aumento mundial das dívidas públicas é um problema estrutural. Há pressão política para gastar mais com saúde e bem-estar social, ao passo que aumentar impostos e receitas é politicamente difícil e economicamente prejudicial ao crescimento. “Bancos centrais das economias avançadas estão na armadilha da dívida. Se a inflação subir, e eles tentarem aumentar as taxas de juros para combatê-la, isso pode esmagar os mercados de títulos, crédito e acionário e levar a uma recessão”, observou.

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O principal ponto de atenção é o afrouxamento das políticas monetária e fiscal trazer ameaças significativas do lado da oferta nos mercados de bens, commodities, energia, alimentos, transporte e logística. Segundo Roubini, há no mundo movimentos de desglobalização, protecionismo e fragmentação das redes globais de suprimentos – ou seja, restrição do comércio de bens, serviços, mão de obra, capital, tecnologia, dados e informações. Isso reduz o potencial de crescimento e aumenta os custos de produção.

Também contribui para isso o “reshoring” da manufatura – o retorno das indústrias ao seu país de origem – desde a de baixo custo, na China e na Ásia, até a de alto custo nos Estados Unidos e na Europa. “Não estamos alocando capital onde há mais eficiência. Isso ocorre não só por motivos políticos, mas também para proteger empresas e trabalhadores locais”, ponderou.

Além disso, o envelhecimento populacional leva ao crescimento da demanda e à redução relativa da oferta, o que pode causar inflação também de salários. Isso era compensado pelo crescimento populacional de imigrantes. Mas, com a ampliação das restrições migratórias, esse movimento não é mais possível e há um impacto sobre preços e remunerações.

Outra questão são as mudanças climáticas. Desertificação e falta de fontes de água no mundo levam à dilatação dos preços dos alimentos e do custo da agricultura. E, embora estejamos em tendência de “descabonização”, as energias renováveis não acompanham a demanda por energia, que cresce com a recuperação global.

Fora isso, Roubini reforça que há uma tendência de vivermos pandemias recorrentes por causa de desmatamentos, que tornam mais frequentes as zoonoses – doenças ou infecções transmissíveis entre animais e seres humanos. Ele completa o raciocínio falando das “guerras cibernéticas” e dos efeitos da robótica, automação e inteligência artificial nos empregos e na desigualdade de renda.

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A crise não é a mesma para todos os países

Roubini pontuou como a recessão causada pela pandemia da Covid-19 afeta economias desenvolvidas e as em desenvolvimento de maneira diferente. “Países pobres têm sistemas de saúde mais fracos, menos acesso às vacinas e menos espaço para flexibilização das políticas monetária e fiscal”, lembrou. Esses elementos restringem as possibilidades de recuperação dessas nações.

Por isso, a retomada das economias avançadas também tem sido mais forte do que a de mercados emergentes. “Em muitos deles, a moeda se desvalorizou e a inflação subiu. E tiveram de reagir imediatamente, elevando as taxas de juros, mesmo que elas prejudiquem ainda mais a recuperação do crescimento econômico”.

Como proteger os investimentos?

O economista finalizou aconselhando investidores a adequarem suas carteiras a essa realidade de estagflação. “Se parte da carteira for de renda fixa, qualquer aumento da inflação reduz o preço dos títulos e você terá perdas”, alerta.

Para se proteger desse risco, Roubini indica migrar para títulos de prazos curtos ou indexados à inflação, além de investir em ouro, metais preciosos, commodities e ativos reais, como em infraestrutura e bens imobiliários. “Há quem esteja muito animado com criptomoedas e afirme que essa deve ser sua reserva, mas não é uma reserva de valor estável”, disse.

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REFLEXÃO: Michael Batnick, gestor de patrimônios da Ritholtz: Evitar erros catastróficos é mais importante do que construir o portfólio perfeito.

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