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palavras-chave: Hering volta aos holofotes após negar fusão com Arezzo: quais os caminhos possíveis para as empresas?; invistaja.info;
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BRASIL | invistaja.info — O último ano de pandemia foi marcado por diversas propostas e operações de fusões e aquisições, de forma a consolidar e fortalecer as companhias dos mais diferentes segmentos de mercado. Contudo, algumas destas propostas surpreendem bastante os investidores, como a que se tornou pública na última quarta-feira (14). A Cia. Hering (HGTX3) informou ao mercado ter recusado a proposta feita pela Arezzo (ARZZ3) no último dia 7 para a combinação das operações entre as duas companhias, uma operação que estava totalmente fora do radar dos investidores.
Apesar da proposta ter sido rejeitada, o fato da Cia. Hering ter divulgado a intenção da rival de fazer a fusão acabou abrindo espaço para especulações sobre se a varejista de moda básica – até então em baixa na Bolsa – estaria aberta a novas propostas, inclusive de outras empresas do setor. Com isso, os ativos HGTX3 chegaram a saltar 31,87% na máxima do dia na sessão desta quinta-feira (15), a R$ 22,55. Enquanto isso, os papéis da Arezzo também subiram forte, ainda que mais modestamente com ganhos de até 10,52%, a R$ 82,57, com os investidores e analistas avaliando os prós e contras desta operação para as duas varejistas.
Se, por um lado, a Arezzo, até pouco tempo atrás focada em calçados femininos, está mudando de patamar expandindo e buscando novas oportunidades no setor de moda e têxtil, por outro, a Cia. Hering, que apresentava resultados fracos antes mesmo da pandemia e estava em baixa na Bolsa, lembrou aos investidores a força que tem a sua marca.
A avaliação dos analistas, como Victor Saragiotto e Pedro Pinto, do Credit Suisse, era de que o momento desta transação não poderia ser melhor para a Arezzo & Co, uma vez que os ativos ARZZ3 estão nas máximas históricas, enquanto HGTX3 ainda estava, até o fechamento da véspera, cerca de 30% abaixo dos níveis pré-pandêmicos, proporcionando uma relação de troca bastante atrativa para os acionistas da Arezzo.
As duas, vale ressaltar, têm uma história recente que vai na contramão uma da outra — e que agora passam a se encontrar. Anos atrás, a Hering valia R$ 7,5 bilhões e a Arezzo R$ 3,2 bilhões. Hoje, a situação se inverteu: a Arezzo vale R$ 7 bilhões, enquanto a Hering valia pouco menos de R$ 3 bilhões até o fechamento de quarta-feira.
A proposta de combinação de negócios enviada pela Arezzo era de que os acionistas da Hering receberiam R$ 1,29 bilhão em dinheiro e ficariam com 21,17% da companhia resultante da fusão. A relação de troca — 0,1686 novas ações ON da Arezzo para cada ON da Hering — equivaleria a um prêmio de 20% sobre o preço médio ponderado por volume da ação da Hering nos 90 dias anteriores a proposta. O valor, assim, totalizaria cerca de R$ 3,3 bilhões.
Ao justificar a recusa em comunicado, a Cia. Hering destacou que o conselho de administração da companhia, com assessoria do BR Partners e Machado, Meyer, Sendacz e Opice Advogados, decidiu por unanimidade (…) rejeitar a proposta, por considerar que ela não atende “ao melhor interesse dos acionistas e da própria companhia”.
Assim, uma questão que fica é se as portas vão continuar abertas para novas tentativas. Enquanto o JPMorgan avalia que a recusa rápida pode não gerar margem para novas propostas, para Angélica Marufuji, sócia e analista da Meraki Capital, o fato de a Hering ter negado a proposta não fecha as portas para que as negociações continuem.
A relação de Hering e Arezzo é de certa forma antiga, com Anderson Birman (Arezzo) e Fabio Hering (Hering) fazendo parte do Conselho de Administração de ambas as empresas entre 2014 e 2017, até ensaiando uma combinação de negócios no período.
Assim, a avaliação é de que a Arezzo possa vir com uma nova proposta, enquanto outras empresas também podem voltar os seus olhos para a operação da Cia. Hering.
Quem se beneficia mais
Neste cenário e com possíveis novas propostas no radar, Eduardo Guimarães, especialista em ações da Levante Ideias de investimentos, espera que o efeito positivo para as ações da Arezzo seja mais limitado, até ligeiramente negativo no curto prazo, uma vez que ela terá que mostrar um interesse maior (preços mais elevados) caso queira realizar de fato uma combinação de negócios com a Hering.
“A rejeição da oferta pela Hering e torná-la pública pode ter um viés além da simples transparência ao mercado e o ‘não atendimento dos melhores interesses’ das partes interessadas. Em adição, mostra que há interessados externos nos negócios da Hering dispostos a pagar um prêmio relevante em relação a seu valor de mercado atual, ainda mais com o processo de melhoria e integração total de suas operações com o e-commerce e lojas físicas, já começando a apresentar resultados relevantes nas linhas de despesas”, avalia Guimarães.
Por outro lado, como a Arezzo já incorporou a Reserva, marca de vestuário masculino, o mercado entende como positivo o movimento de ampliar a linha de atuação da companhia para mais segmentos do setor de moda e têxtil.
Assim, mesmo com o efeito limitado no curto prazo para as ações, o analista vê a possível fusão como mais positiva para a Arezzo do que para a Hering.
“A Arezzo tem uma plataforma digital mais avançada, e os acionistas da Hering ganhariam só uma ação com mais liquidez, uma empresa com portfólio mais diversificado e acesso melhor a capital. Já os acionistas de Arezzo agregam uma marca forte ao portfólio da companhia e ficariam com uma ação ainda mais forte na Bolsa. A Arezzo quer expandir seus ganhos para além do público feminino, ela mostrou isso com a compra da Reserva e agora com essa tentativa na Hering”, avalia.
Na avaliação do JPMorgan, a nova via de crescimento da Arezzo é positiva e pode gerar valor significativo para os acionistas. “Apesar de ter registrado resultados decepcionantes entre os últimos 2 e 3 anos, acreditamos que a Cia. Hering possui um forte valor de marca, que poderia ser reformulado com melhor execução de varejo em lojas próprias e franquias – um ponto forte da Arezzo”, destaca a equipe de análise.
Olhando para a Cia. Hering, a negativa da companhia em realizar a fusão indica que ela segue confiante em sua estratégia de crescimento (principalmente via digital), o que é positivo. Porém, de acordo com os analistas, a estratégia da varejista permanece mais ou menos a mesma dos anos anteriores.
Assim, na opinião dos analistas do JP, esta transação poderia desbloquear um valor material para a Hering, especialmente considerando que o nível de confiança em sua execução é baixo e a Arezzo tem “a caixa de ferramentas” (e histórico) para apoiá-la.
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Dentre os potenciais benefícios da fusão, estão a cultura de varejo da Arezzo, as ferramentas de controle de franquia e os recursos multicanalidade sendo estendidos para operações da varejista; capacidades de fabricação da Hering para apoiar a integração vertical parcial na Reserva (recentemente adquirida pela Arezzo); e maiores sinergias operacionais, com a otimização da infraestrutura dos centros de distribuição, processos de showrooming e supply chain mais back-office.
Os analistas do JPMorgan continuam com recomendação overweight (exposição acima da média) para a Arezzo, possuindo preço-alvo de R$ 80. Eles veem oportunidades de crescimento e execução forte somadas à opcionalidade de uma maior expansão no segmento de vestuário através de aquisições. Para a Hering, a recomendação é neutra, com preço-alvo de R$ 17,50 para os ativos, “dada a visibilidade ainda limitada sobre a conclusão de sua recuperação e tendências de crescimento mais brandas”.
Disparada das ações, e agora?
A alta muito forte dos ativos HGTX3, saindo da casa dos R$ 17 e indo para dos R$ 21, também leva à questão sobre até onde os papéis podem ir na Bolsa. Para Angélica, a alta dos ativos até este patamar estabelece um piso para possíveis novas ofertas. Ou seja, mostra que a empresa vale, no mínimo, os 20% a mais que a Arezzo propôs.
“Era um papel fora de interesse de investidor, mais usado para tomar posições short (vendida, que aposta na queda da ação) de varejo. Com esta notícia, o mercado volta a olhar a empresa, com os questionamentos: ‘o que a Arezzo vê aí? o que pode ter de assimetria com gestão nova?’”, avalia. Assim, por mais algumas sessões, as ações podem registrar alta com revisão e ajuste de posição de diversas fundos, gerando também uma maior busca pelo ativo.
Outro fator que pode levar a uma maior valorização do papel é a expectativa pela nova proposta.
O Credit Suisse também aponta que, agora alvo de fusões e aquisições, a ação HGTX3 pode ter uma reação positiva prolongada por conta destas especulações. Os analistas do banco também avaliam que não veem uma aquisição hostil como provável neste momento, dado o bom relacionamento entre as duas famílias fundadoras.
Eles destacam ainda que a Arezzo & Co atuam em uma categoria e posicionamento diferentes e, caso perdesse parte da gestão da Cia. Hering., a equipe não seria ideal à primeira vista, ainda mais por ser “uma empresa difícil de digerir [para a Arezzo].
Filipe Ferreira, diretor financeiro da Comdinheiro, aponta três possíveis cenários para as negociações.
O primeiro é que a Cia. Hering possa ter negado a proposta esperando que, com o nome dela no radar, outras propostas apareçam. Alguns competidores pares poderiam enxergá-la como um ganho de capacidade produtiva, como a Lojas Renner ([ativo =LREN3]) ou a Guararapes ([ativo =GUAR3]), controladora da Riachuelo. “Esperar uma oferta de algum desses competidores pares é um caminho menos provável, mas é possível”, avalia.
O segundo cenário é o que está em andamento: uma marca tem interesse na Hering para fortalecimento de portfólio, ou melhor, para se posicionar em um novo mercado, comprando uma operação grande. É o que a Arezzo está tentando fazer.
Para Ferreira, é bem provável que a Arezzo volte para a mesa e apresente para a Hering uma proposta maior no momento. Ele avalia ser normal uma proposta menor inicialmente (o que fez a Hering a recusar a proposta), levando a uma margem de negociação maior a partir disso.
O terceiro cenário seria a Hering recusar a proposta da Arezzo e conseguir chamar atenção de investidores estrangeiros para a sua marca. Ferreira ressalta que muitas varejistas de fora do Brasil tentam operar no país, mas sem muito sucesso, caso da Forever 21. Dentre os impedimentos, estão as barreiras de entrada com as competidoras gigantes e as dificuldades logísticas, ainda mais levando em conta o tamanho continental do país.
“A Zara, por exemplo, pode ser uma que se beneficiaria de uma fusão com a Hering. Ela, como holding, poderia ter interesse na marca brasileira, otimizando a cadeia produtiva e fazendo um bom trabalho de design de marca. Aqui no Brasil, a Zara está num segmento premium porque é muito difícil a competição com outros players” avalia.
Ferreira ressalta que o varejo têxtil enfrenta um momento desafiador na pandemia, inclusive em escala global. Porém, uma vez que este tipo de operação é tão grande, demandando tempo para ser concluída, há grandes possibilidades do cenário para o setor melhorar no país. Com isso, um possível interesse dos estrangeiros não pode ser descartado.
De qualquer forma, Ferreira avalia que, sem dúvida, o movimento de interesse da Arezzo também foi positivo para a Hering. “Ela estava sendo olhada de uma maneira mais secundária pelo mercado, e agora estará nos holofotes. Uma união entre Arezzo e Hering pode, sim, ser bastante interessante para as duas”, afirma.
Desta forma, a Hering, que até então era vista com ceticismo por investidores até mesmo antes da pandemia, agora deve ver as suas ações reagirem principalmente às especulações sobre se ela realmente será vendida – e, mais do que isso, o quanto ela será disputada no mercado.
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