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Não é só a Petrobras: economistas começam a revisar projeções para PIB, inflação e dólar depois de Bolsonaro trocar o comando da empresa

Balanço de riscos aumentou e agora a preocupação vai além de auxílio emergencial, ajuste fiscal e pandemia de coronavírus

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Edição invistaja.info e MarketMsg

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BRASIL | invistaja.info — O impacto nas expectativas do mercado para a Petrobras (PETR3; PETR4) com a pressão do governo na política de preços ficou claro com a forte queda das ações da estatal nesta segunda-feira (22), mas as consequências a troca do comando da estatal não se limitam à Bolsa.

Economistas começam a revisar as projeções para os principais indicadores econômicos brasileiros, como Produto Interno Bruto (PIB), inflação e dólar.

Segundo Alessandra Ribeiro, diretora da área de macroeconomia e análise setorial da Tendências Consultoria, os cenários macroeconômicos traçados até a semana passada colocavam no balanço de riscos questões como a pandemia de coronavírus, a trajetória de aumento da dívida pública em relação ao PIB e o possível retorno do auxílio emergencial.

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“O que esse evento com a Petrobras introduz no horizonte é uma alteração da política econômica, de modo que se materializam riscos não só de saída do [ministro da Economia] Paulo Guedes, como de redução na relevância de toda a equipe econômica do governo”, avalia.

Na prática, conforme se enfraquece a pauta liberal dentro do Planalto, também se tornam mais difíceis as aprovações de reformas fiscais como a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) Emergencial e a reforma administrativa.

“A aprovação da reforma tributária nunca esteve em nosso cenário-base, mas com essa mudança de paradigma no governo não acreditamos mais em uma reforma administrativa que impacte pelo menos os funcionários públicos no futuro, e esperamos uma PEC Emergencial sem contrapartidas relevantes no Orçamento à recriação do auxílio emergencial”, destaca Alessandra .

Para a diretora da Tendências, a confiança dos agentes na condução econômica da gestão de Jair Bolsonaro foi drasticamente minada e, com isso, os fundamentos macroeconômicos mudam.

“Nossa projeção para o IPCA era de 3,4%. Já estava em alta por conta da parte de combustíveis, mas esperávamos uma apreciação do real no segundo semestre, e isso saiu do nosso cenário base.”

De acordo com a economista, tanto as previsões oficiais da consultoria para inflação como para o dólar estão em processo de revisão. A Tendências previa o dólar cotado a R$ 4,85 ao fim de 2021, o que se tornou bem mais difícil de se concretizar.

Atuação do Banco Central deve ser mais forte

Fábio Silveira, sócio-diretor da MacroSector Consultores, conta que já alterou sua projeção para o  IPCA para 4,5% em 2020 – acima da meta oficial de inflação do Banco Central, que é de 4% – quando saíram as primeiras notícias de que a Petrobras estaria praticando preços abaixo do valor do petróleo no mercado internacional.

Essa reavaliação se deve ao fato de que a defasagem já chegou à ordem de 25% e o reajuste recente foi de “apenas” 10%.

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O economista projeta que, neste mês de fevereiro, o preço na refinaria do óleo diesel tende a ficar 20% abaixo do mercado externo e, ainda assim, o preço ao consumidor deva subir 5% frente a janeiro de 2021, atingindo R$ 3,85 o litro. A gasolina, por sua vez, ficará com 24% de defasagem, mas 5% mais cara ao consumidor.

“Se a Petrobras já vinha praticando preços de combustíveis nas refinarias abaixo da paridade internacional há cinco meses, quanto mais tempo demorar para corrigir completamente esse desequilíbrio, mais forte terá que ser o reajuste lá na frente, a menos que o dólar se desvalorize muito, assim como o petróleo”, argumenta.

Silveira destaca que quem movimenta a economia já tem essa questão em mente e, portanto, de olho em um ajuste rigoroso dos preços dos combustíveis no futuro, diversos preços já são elevados agora, em um processo que comumente alimenta a bola de neve da inflação mundo afora.

“A inflação pode ir para 5%, 5,5% ou até 6%, o que pode gerar um desestímulo ainda maior para os aplicadores em renda fixa. O Banco Central será obrigado a elevar os juros brasileiros para que a perda real no investimento em títulos públicos não suba a 2,5% ou 3% ao ano”, comenta.

Alessandra concorda que o BC terá de agir para conter a inflação diante da nova situação macroeconômica nacional. “A Selic deve ser elevada em 0,25 ponto percentual na reunião do Copom [Comitê de Política Monetária] de março”, prevê.

Na opinião da economista, a saída de capital estrangeiro gerada pela perda de confiança no governo deve ser parcialmente compensada pela atuação do BC, por isso a autoridade monetária teria que aumentar a Selic  para além do esperado pelo mercado. “Isso ajudaria a segurar a taxa de câmbio”, conclui.

Por outro lado, uma elevação dos juros pode prejudicar ainda mais a recuperação da economia. Alessandra conta que ainda não irá revisar sua projeção cautelosa de crescimento de 2,9% para o PIB este ano, mas que os novos fatores fazem com que o viés seja de baixa.

“Ainda não fizemos nenhum exercício de revisão porque o efeito estatístico é muito forte. O carry over de 2020 é de 3,4%. Isso é o que teríamos de expansão da atividade se o ritmo simplesmente se mantivesse o mesmo em relação ao quarto trimestre. Mas o risco que se coloca, especialmente para 2022, é baixista.”

No relatório Focus do Banco Central divulgado hoje, a mediana das projeções dos economistas do mercado financeiro era de crescimento de 3,29% do PIB em 2021 (ante 3,43% na semana anterior) e de 2,5%, em 2022.

As equipes de análise dos bancos Itaú, Bradesco e Santander foram procuradas para a matéria, mas não quiseram comentar se farão revisões em suas projeções macroeconômicas depois da interferência realizada por Bolsonaro na Petrobras.

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