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SÃO PAULO – O diesel voltou a ser tema de destaque para a Petrobras (;) ao longo desta semana, após a companhia anunciar o reajuste de 4,4% do combustível na última terça-feira, com os preços válidos desde a última quarta (27)
palavras-chave: Petrobras reajusta diesel, mas preço segue defasado: fantasma da interferência do governo segue no radar?; invistaja.info;
A notícia gerou certo alívio para o mercado; afinal, essa foi a primeira elevação significativa do combustível no ano de 2020 em meio a um cenário de pressão política por conta das ameaças de greve dos caminhoneiros. Assim, havia um grande temor de que a política de reajuste de preços da companhia não fosse usada adequadamente e os preços fossem represados de forma a conter eventuais paralisações da classe de trabalhadores (veja mais ).
Conforme a equipe de análise da XP Investimentos, o reajuste do diesel, contudo, ainda implica em um desconto médio para referências internacionais de US$ 1,86 o barril e um desconto com relação aos níveis de importação para paridade internacional de US$ 8,76/bbl, ou -14,2%. Além disso, compara-se à variação de alta de 9,3% nos preços de petróleo (Brent) e desvalorização do real de 1,8% desde o último ajuste relevante de preços, em dezembro de 2020.
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Assim, Gabriel Francisco e Maira Maldonado, analistas da XP, destacam que, apesar de verem como positivo que a Petrobras finalmente tenha anunciado um aumento nos preços do diesel após 25 dias sem mudanças relevantes de preços, os preços de combustíveis da companhia no nível das refinarias ainda estão abaixo das referências internacionais de preços de combustíveis.
Isto significa que os níveis atuais ainda não estão em um patamar que permita que operadores independentes possam importar combustíveis com margem de lucro. “Em nossa opinião, se o cenário atual de descontos em relação às referências internacionais de preços de combustíveis persistir por mais tempo, poderá ocorrer um aumento da percepção de risco para as ações da Petrobras”, apontaram os analistas.
Com menor preocupação, o Morgan Stanley aponta que a defasagem do reajuste do diesel não foi um evento propriamente novo, e tampouco o tempo para um novo reajuste foi recorde. “A independência de preços permanece”, destacou.
Avaliando que os preços do combustível estão ainda cerca de 5% abaixo da paridade internacional após o reajuste, Bruno Montanari e Guilherme Levy, analistas do banco, fizeram uma análise sobre o mecanismo de preços atual (desde que esta equipe de gestão assumiu o cargo, em 2019) para apontar se está havendo mesmo uma defasagem de preços.
Em primeiro lugar, ao responderem à questão sobre se os combustíveis estão anormalmente abaixo da paridade, os analistas citam que, no último mês, os preços dos combustíveis estavam em média com entre 7% e 11% de desconto em relação à paridade internacional. “Embora os preços estejam abaixo do período pré-pandêmico, argumentamos que esse poderia ser um movimento para ser competitivo contra as importações durante um período de menor visibilidade da demanda num cenário de pico de casos de Covid-19 no Brasil. Esperamos que a empresa alcance a paridade de maneira gradual nas próximas semanas”, avaliam.
A segunda questão no radar é sobre se a Petrobras demorou mais para ajustar os preços do diesel desta vez. Na avaliação do Morgan, embora seja um período de tempo maior em relação à média de 9 dias, não foi um recorde para esta equipe de gestão, que já havia demorado mais para reajustar os preços duas vezes, entre 30 e 35 dias.
A terceira e última questão é sobre se a estatal é mais rápida em promover cortes do que aumentá-los, a fim de analisar se a empresa de alguma forma tenta minimizar o efeito dos aumentos de preços para os consumidores finais e maximizar as quedas de preços. De acordo com os analistas, embora a velocidade para reduzir os preços seja um pouco maior do que para aumentar no diesel (em 1,6 dia), não é material o suficiente na opinião deles. No caso da gasolina, os aumentos de preço são implementados mais rapidamente do que os cortes em 0,7 dia.
Assim, os analistas acreditam que as preocupações recentes do mercado provavelmente são injustificadas. “Concluímos que a defasagem recente para reajustar os preços do diesel não foi um acontecimento novo e que a prática da empresa normalmente não posterga aumentos de preços em benefício do consumidor final. O atual desconto à paridade está acima dos níveis médios, e um ponto para continuar sendo monitorado, mas não tão preocupante como alguns podem pensar. Acreditamos que isso possa estar vinculado a estratégias comerciais em meio à pandemia e não necessariamente indicativo de qualquer interferência na empresa”, avaliam Levy e Montanari.
Os analistas ainda destacam não acharem que a empresa estaria disposta a arriscar seu programa de vendas de refinaria neste momento, o que seria o caso com uma política de preços duvidosa em vigor.
“Esses desinvestimentos devem cristalizar as práticas de paridade internacional no Brasil, removendo uma questão persistente sobre a ação e abrindo caminho para que seus ativos de classe mundial no pré-sal sejam devidamente avaliados no futuro”, destacam os analistas, que possuem recomendação overweight (exposição acima da média do mercado) para os American Depositary Receipts (ADRs) da companhia, com preço-alvo de US$ 16,50.
Outras medidas para reduzir impacto do diesel
Já para a XP, a visão segue de cautela mesmo com a fala de ontem de Jair Bolsonaro, presidente da República, de que está disposto a reduzir impostos federais para baratear o preço do diesel e espera que os governos estaduais reduzam as alíquotas de ICMS com o mesmo objetivo. A redução de PIS/Cofins sobre o diesel visa atenuar o efeito do aumento no preço do combustível sobre o bolso dos caminhoneiros.
A sinalização, de acordo com informações do jornal Valor Econômico, foi bem recebida por representantes de caminhoneiros e transportadores rodoviários, com as lideranças dos motoristas apontando que a postura é uma demonstração de que a interlocução entre a categoria e o governo está fluindo. Uma questão, contudo, é que a medida só vai para frente se houver compensação, ou seja, elevação de outro tributo ou corte de subsídio. As opções ainda estão sendo analisadas pela área econômica.
Durante evento do Credit Suisse nesta quinta, Roberto Castello Branco, CEO da estatal, disse, sem citar entidades específicas, que grupos de pressão têm recorrido a políticos para pressionar o governo federal a interferir nos preços dos combustíveis. “Todo mundo sabe onde bater, como se o grande vilão fosse a Petrobras. A Petrobras não será mais a vilã. A Petrobrás hoje pratica preços de paridade internacional”, afirmou.
Castello Branco ainda argumentou que há frota com idade média de 20,5 anos. “São caminhões antigos, altamente consumidores de diesel, que fazem em média 2 km com 1 litro de diesel. O custo do diesel é muito mais alto para eles e o custo de manutenção, evidentemente, é mais alto. Não é um problema da Petrobras”, alegou.
O CEO também ironizou o fato de a empresa ser criticada, simultaneamente, por praticar preços baixos e elevados do diesel. De um lado, os caminhoneiros reclamam que o combustível está caro. Do outro, importadores acusam a empresa de adotar valores abaixo dos de importação para inibir a concorrência. “Isso é como discussão sobre futebol. Todo mundo quer dar sua opinião. Existe toda uma literatura econômica sobre repasse de preços”, afirmou o presidente da estatal, enfatizando que, em 2019 e 2020, a Petrobrás manteve seus preços alinhados ao mercado externo. “A paridade de preço de importação não é um valor absoluto. Temos custos , acesso a preços, capital de giro e condições de logística diferentes”, argumentou.
Para Maira e Francisco, é positivo o fato das discussões acerca dos preços de diesel não estarem focadas no elo da refinaria e, portanto, da política de preços da Petrobras. Por outro lado, enquanto não for possível encontrar uma solução que agrade a categoria dos caminhoneiros, a recomendação é de cautela e atenção para a política de preços de combustíveis da Petrobras. Os analistas, porém, seguem com recomendação de compra para os ativos, com preço-alvo de R$ 35 para ambas as classes de ações.
(Com Agência Estado)
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