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Por que o Bitcoin ainda não é hedge de inflação – e o que é preciso para o ponto de virada

A tese do Bitcoin como proteção contra a inflação está sendo testada e até agora não se saiu muito bem

Informação para traders e investidores

Edição invistaja.info e MarketMsg

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*Por Jill Gunter

Recentemente, foram publicados os dados da inflação para o mês de janeiro nos Estados Unidos: o dólar perdeu 7,5% do seu poder de compra em comparação com o ano passado, a maior queda em 40 anos. Embora o cenário não seja favorável para a economia americana, alguém poderia ter previsto que esse seria o momento de vingança dos investidores de Bitcoin (BTC). Mas não está sendo assim.

Desde a primavera de 2021, quando a inflação começou a crescer, o Bitcoin perdeu 18% de seu valor relativo ao dólar, com desempenho abaixo de outros ativos de risco, como o S&P 500 (alta de 8%), e hedges de inflação tradicionais, como o ouro (alta de 7%). No primeiro mês do ano, tanto o BTC quanto o S&P 500 caíram 8%, ao passo que o ouro subiu 3%.

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Apesar da sua oferta fixa e da popular tese de “reserva de valor”, o Bitcoin continua sendo negociado com alta volatilidade e maior correlação com ativos de relativo risco em contraste com os ativos tradicionais seguros, como o ouro. No entanto, os preços não são exatamente afetados pela inflação, mas sim pela reação do Federal Reserve (Fed) para contê-la: aumento das taxas de juros ao longo do ano para compensar o excesso de liquidez, novo fortalecimento do dólar e controle da alta de preços na economia.

A movimentação do mercado e o cenário de aumento das taxas de juros lembram o último trimestre de 2018, a última vez em que o Fed iniciou um ciclo de altas. Durante o período, o Bitcoin (e o mercado de criptomoedas, no geral) perdeu 40% de seu valor, enquanto o S&P 500 perdeu os ganhos do ano e caiu 14%.

As subidas descontroladas do ano anterior foram ao menos parcialmente atribuídas à quantidade de dinheiro que o Federal Reserve e outros bancos centrais haviam injetado na economia global. No geral, ativos de riscos (como ações de empresas de tecnologia com beta alto e dívidas de mercados emergentes) se beneficiaram dessa liquidez toda — e o Bitcoin e o resto da incipiente indústria cripto também.

Na época, escrevi sobre os investimentos desenfreados das pessoas no contexto econômico de muito dinheiro circulando: no espectro de risco, estavam tokens associados com “[oferta inicial de moedas] na qual investidores [haviam despejado] cerca de US$ 20 bilhões… muitas vezes, sem ter em conta direitos ou proteção de investidores”.

Eu só consigo pensar que esse número agora parece curioso, e lembra os valores de mercado dos projetos de ICOs (sigla em inglês para oferta inicial de criptomoeda) de 2017. Mas também é similar ao que aconteceu em 2021 e no primeiro mês de 2022, com investidores negociando US$ 30 bilhões em NFTs.

Parte desse volume, claro, é wash trading, prática de comprar e vender o mesmo ativo para criar volume de negociação artificialmente alto e manipular seu preço. Também estou ciente, claro, de que não são “apenas imagens em JPEG”. Ainda assim, o risco existe.

A loucura dos últimos dois anos ultrapassou e muito o que vimos no hype de 2017. O aumento de dólares impressos é inédito desde que a pandemia do coronavírus começou. O crescimento anual da oferta de dinheiro, que variou de 3% a 7% entre 2015 e 2020, disparou para 20% a 30% nos meses após março de 2020.

A obsessão era previsível, assim como agora são a inflação, os aumentos dos juros e a queda de preços de ativos de risco (incluindo o Bitcoin). Tomando 2018 como exemplo, podemos estar prestes a observar quedas em ativos de valor que, a partir de agora, passam a ser duas vezes maiores (ou mais). A magnitude e a duração dos declínios são difíceis de prever e vão depender de o Federal Reserve fazer a economia – que está voando muito perto do Sol – aterrissar de forma leve.

Até agora, o Bitcoin não cumpriu a promessa de servir como hedge de inflação. Então, devemos refletir sobre o que é necessário para que ele seja negociado como tal.

Como o Bitcoin pode se tornar uma autêntica reserva de valor

Talvez a mudança mais fundamental que precisa acontecer para o Bitcoin se comportar como uma reserva de valor é o amadurecimento do mercado. Uma das características de um mercado maduro é a atuação de investidores no longo prazo que podem se dar ao luxo de passar por volatilidade e quedas nos preços — além de agir no outro lado, oferecendo apoio e estabilidade ao ativo.

hotWords: ainda para inflação preciso virada

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Muitas vezes, esses investidores são instituições, mas eu diria que eles não necessariamente precisam ser grandes bancos tradicionais e gestores de ativos (embora esses sejam aceitáveis). Cada vez mais, fundos de criptomoedas conseguem servir como forças estabilizantes do mercado.

Outra característica de um mercado maduro é o desenvolvimento de padrões, métricas e classificações comuns, usados por vários participantes do mercado. Há certas heurísticas que investidores e traders desenvolvem ao longo do tempo para rapidamente compreender, considerar e negociar ativos.

A noção de um espectro de risco é um exemplo disso: de um lado, ações de risco de empresas de tecnologia e ativos de mercados emergentes e, do outro, ativos seguros, como ouro e títulos do Tesouro americano.

Investidores e traders têm conhecimento da categorização de classes de ativos e sabem qual é a expectativa geral de negociação dessas categorias em diversas condições de mercado. Existe uma recursividade no mercado. Os investidores esperam que o ouro cresça quando a inflação sobe – e é de fato o que acontece.

Hoje em dia, ativos de criptomoedas ainda são ambíguos para os participantes do mercado. No contexto dos mercados macroeconômicos, BTC, ETH, ADA, SOL e AVAX, por exemplo, são tudo a mesma coisa. Para investidores e traders que passam o dia pesquisando sobre criptomoedas, isso obviamente não é verdade, mas observe a próxima vez que qualquer portal de notícias do mercado financeiro cobrir uma pauta sobre criptomoedas.

É muito raro esses e outros tokens serem separados em diferentes classes ou categorias. Para o Bitcoin parar de ser negociado como ativo de risco e passar a ser negociado como hedge de inflação, ele precisa ser visto como uma classe de ativos separada do resto dos mercados de criptomoedas.

Há alguns sinais de que isso está prestes a acontecer, com pesquisas de empresas como o Goldman Sachs, que separa o Bitcoin das outras criptomoedas e considera-o uma “reserva de valor” que compete com o ouro. É claro que é preciso mais do que narrativa e algumas pesquisas para chegar lá.

Conforme o mercado cripto amadurece e se aproxima das finanças conhecidas, os grandes investidores e traders necessitarão se alinhar não só às classificações, mas aos parâmetros que determinam essas categorias, permitindo nuances na perspectiva do Bitcoin e outros ativos de criptomoedas.

Visto que as ações têm indicadores, como price-to-earnings (preço/lucro), considerados pelos mercados para avaliá-las e as commodities têm suas dinâmicas específicas de oferta e demanda, o mercado também deveria alinhar métricas comuns importantes ao tratar das diversas categorias de ativos de criptomoedas. Algumas dessas métricas já surgiram e só precisam garantir uma adoção maior e ser vistas como um sinal no contexto dos mercados macroeconômicos.

Alguns exemplos desses benchmarks são: taxa de inflação do ativo de criptomoeda; oferta fixa possível (no caso do Bitcoin); valor de mercado implícito para 2030; e “coin days destroyed”, indicador que aponta a quantidade de dias em que um determinado ativo ficou parado em uma carteira. Esses padrões existem. Eles apenas não estão em evidência e não foram difundidos o suficiente dentre os grandes participantes do mercado.

O próprio Goldman demonstrou bem essa falta de padrão ou categorização clara para o Bitcoin. Apenas seis meses antes de publicar seu texto sobre Bitcoin como reserva de valor, divulgou uma nota dizendo: “Nós achamos que o ouro é um hedge de inflação defensivo e as criptomoedas são um hedge de inflação de risco”, sem apontar o BTC como uma possível exceção.

A grande tese do Bitcoin como hedge de inflação está finalmente sendo testada nos Estados Unidos e até agora não se saiu muito bem. Conforme os mercados de criptomoeda amadurecem e os participantes do mercado começam a diferenciar o BTC dos outros milhares de ativos de cripto por aí, existe uma razão para acreditar que ele ainda vai cumprir a promessa de ser uma reserva de valor.

No entanto, a maturidade do mercado, os padrões comuns de valuation e as narrativas levam um tempo para se desenvolver. Então, talvez ainda não seja uma boa ideia colocar todo seu dinheiro em Bitcoin para minimizar o risco da desvalorização do dólar americano.

*Jill Gunter é cofundadora da Open Money Initiative, uma organização de pesquisa sem fins lucrativos que trabalha para garantir o direito a um sistema financeiro livre e aberto. Ela também é investidora em startups em estágio inicial na Slow Ventures

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