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SÃO PAULO (Reuters) – O dólar saltou 2% ante o real nesta sexta-feira, na maior alta em quatro meses, impulsionado por ordens automáticas de compras após a moeda romper duas resistências técnicas, com ampla incerteza sobre o cenário doméstico diante do atraso na vacinação, dos efeitos econômicos da pandemia e de potenciais aumentos de gastos por causa da crise sanitária
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O ambiente externo mais arisco nesta sexta pesou contra o real, que caiu assim como boa parte de seus pares emergentes. O peso mexicano, por exemplo, cedia 1,1% no fim da tarde.
Mas o “gap” negativo da moeda brasileira persistiu. Enquanto o real se desvalorizou 2,08%, o peso chileno –moeda com o segundo pior desempenho na sessão– depreciava 1,4%.
“O ativo brasileiro mais surrealmente fora de preço é a moeda”, comentou Luiz Fernando Alves, sócio do Fundo Versa. “Com as commodities onde estão, os termos de troca nunca foram tão favoráveis. Temos superávit em conta corrente, reservas, e somos a pior moeda emergente pós-crise. Essa é a melhor ilustração do risco-Bolsonaro”, disse no Twitter.
O governo brasileiro tem sido criticado pela demora na disponibilização de vacinas à população. Enquanto isso, os casos de Covid-19 disparam e novas medidas restritivas são adotadas em algumas regiões. O Estado de São Paulo –que responde por um terço do PIB do Brasil– endureceu restrições ao funcionamento de estabelecimentos como bares, restaurantes, comércios não essenciais e shoppings.
“Isso deve trazer um impacto econômico e, com isso, provavelmente levar o BC a esperar mais antes de subir os juros. E isso não ajudaria a defender o câmbio”, disse Jerson Zanlorenzi, responsável pela mesa de renda variável e derivativos do BTG Pactual digital.
Profissionais do mercado comentaram ao longo do dia sobre a possibilidade de o Banco Central intervir nas operações para amenizar a pressão cambial, já que o real, por mais uma vez, liderou as perdas entre as moedas globais na sessão. No ano, a moeda brasileira já é a de pior desempenho, depois de em 2020 despencar 22,70%, ficando entre as maiores quedas.
Uma intervenção agora via swaps cambiais, na avaliação de alguns players, poderia deixar o mercado ainda mais volátil e passar a impressão de problema de comunicação apenas dois dias depois da tentativa de emitir uma mensagem mais “hawkish” (inclinada a aperto monetário).
“Acho que quando o dólar começar a se aproximar de 5,50 reais, 5,60 reais então o BC pode começar a se mostrar presente”, disse Zanlorenzi.
No fechamento, o dólar à vista subiu 2,12%, a 5,4778 reais na venda. É a maior valorização percentual diária desde 23 de setembro do ano passado (+2,18%). O patamar é o mais alto desde a taxa de 5,5033 reais marcada no último dia 11.
Na semana, a cotação ganhou 3,28%%. Em 2021, o dólar avança 5,51%. A magnitude das variações chama atenção. Na semana passada, o dólar caiu 2,09%, após saltar 4,34% na semana anterior.
Com a recente depreciação do real, o Bank of America encerrou posição comprada na moeda brasileira em relação ao peso chileno. O real tombou 5,66% ante o peso apenas nas últimas cinco sessões.
Na semana que vem, o mercado vai analisar o detalhamento dos argumentos do Banco Central para retirar o “forward guidance” da política monetária, com a divulgação da ata da última reunião do Copom. Investidores vão observar ainda declarações do ministro da Economia, Paulo Guedes, e do presidente do BC, Roberto Campos Neto.
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