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Tarifas de Trump trazem volatilidade no curto prazo, mas podem abrir portas ao Brasil

O presidente americano confirmou uma tarifa de 25% sobre importações de Canadá e México, e dobrou a tarifa sobre produtos chineses; agronegócio nacional pode se favorecer com a guerra comercial

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A declaração de guerra de Donald Trump ao comércio global, com a imposição de tarifas ainda maiores do que o prometido ao Canadá, México e China, é um alerta ao Brasil do quanto o país pode ser prejudicado pelas próximas decisões dos Estados Unidos, em especial em produtos como aço e etanol. Mas a disposição belicosa de Trump pode abrir portas para a relação do Brasil com outros países, dizem especialistas.

Na terça-feira (4), o presidente americano confirmou uma tarifa de 25% sobre todas as importações de Canadá e México, e dobrou a tarifa sobre produtos chineses para 20%. Em discurso, o mandatário também prometeu tarifas recíprocas a partir de 2 de abril, e citou o Brasil, entre outros países, quando tratou do tema.

A avaliação dos especialistas é que o Brasil pode substituir muitos dos produtos dos Estados Unidos que forem sobretaxados pelo parceiros em retaliação às medidas de Trump, como aponta Roberto Dumas, professor de economia chinesa do Insper.

+Secretário de Comércio: Trump avalia possível alívio tarifário para Canadá e México

Uma dessas oportunidades, na sua avaliação, é o aumento da compra de produtos agrícolas pela China, a exemplo do que aconteceu no primeiro mandato de Donald Trump. “É importante que o governo brasileiro se posicione rápido nesse sentido, para fechar um acordo bilateral com a China.”

No próximo dia 10 de março, entra em vigor uma medida chinesa que impõe uma tarifa adicional de 15% sobre frango, trigo, milho e algodão dos Estados Unidos, e de 10% sobre soja, carne suína e bovina, entre outros produtos.

Neste momento, acredita Dumas, o melhor caminho para o Brasil é aguardar os passos de Canadá e México em suas respostas a Trump, para avaliar com cuidado como irá se posicionar nas negociações com os Estados Unidos.

Um efeito importante sobre a economia brasileira, diz ele, é que as medidas impulsionarão a inflação nos Estados Unidos, e portanto podem levar a juros mais altos do que o esperado na maior economia do mundo.

“Mesmo que não seja na tributação, as ações dos Estados Unidos vão bater no Brasil através dos juros americanos mais elevados”, avalia Dumas.

Para João Ascoli, especialista em mercados internacionais e sócio da Sphera Wealth, é positivo para o Brasil que a China tenha anunciado nesta semana um pacote fiscal estimulativo da economia, e uma meta de crescimento de 5% para este ano.

“É um sinal de que estão se preparando para um ano de protecionismo, e que portanto estão focando no mercado interno. E isso acaba sendo positivo para o Brasil.”

No curtíssimo prazo, volatilidade

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No curtíssimo prazo, qualquer cenário para os ativos brasileiros deve levar em conta a volatilidade, avalia Ascoli.

“Vejo uma sequência de volatilidade de ativos. Qualquer novo anúncio de Trump irá gerar volatilidade, tanto para cima como para baixo. A única certeza é essa”, aponta. “O principal desafio será separar o que é ruído do que é um sinal consistente”.

Ele alerta que os anúncios impactam o dólar, a taxa de juros e o mercado de ações.

“Em um cenário de maior volatilidade, os investidores, em vez de saírem comprando, esperam para montar posições. Se o risco do portfólio aumenta, a tendência é que diminua de tamanho, reduza posições”, diz. “Esse pode ser um vetor no curto prazo”.

A avaliação de Ascoli é que possíveis benefícios para o Brasil virão em um segundo momento. “O Brasil é um grande exportador de commodities e pode se beneficiar, mas não de imediato. Isso leva tempo.”

Benefícios menores que em 2018

Um relatório do Itaú Unibanco avalia que a guerra comercial beneficiará o Brasil menos do que aconteceu no período entre 2018 e 2020.

“Em uma potencial segunda guerra comercial, o espaço para novos ganhos parece mais limitado”, afirmou o banco, lembrando que cerca de 70% das importações chinesas de soja já vêm do Brasil.

O banco lembra no relatório que apenas cerca de 45% das importações chinesas de milho vêm do Brasil, e 30% dos Estados Unidos, mas pondera que “a forte produção e os elevados estoques domésticos na China podem levar a menores importações gerais.”

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