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Bolsonaro acuado? Analistas avaliam efeitos do aumento da pressão sobre o presidente na economia e nos mercados

Mercado interpreta “sinal amarelo” de Lira como aceno a impeachment e dizem que a crise política e a pandemia entraram em uma nova fase

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Edição MarketMsg e invistaja.info

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SOMA3 | P/Cap.Giro: 6.54 | Cotacao: 13.94 | Liq.Corr.: 3.03 | P/EBIT: -549.43 | ROIC: -0.0086 | P/L: -95.41

MARINGÁ | invistaja.info — A elevação do tom do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL) com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) soou no mercado como um ultimato: ou a postura do presidente muda ou o Centrão desembarca do governo. Ainda que aproximações e rupturas entre o Centrão e o Executivo aconteçam com certa frequência, a sensação entre os analistas é de que a pandemia e a crise política entraram, juntas, em uma nova fase.

A fala de Lira, que disse que os “remédios políticos” do Congresso são “conhecidos”, “amargos”, e alguns, “fatais”, foi interpretada pelo mercado como um aceno, ainda que distante, a um processo de impeachment.

Para Marcio Fernandes, analista político da OhmResearch, é como se o Centrão dissesse que a hipótese de impedimento foi colocada no horizonte. “O mundo político passou os últimos dias fazendo cálculos quanto ao efetivo papel que o presidente poderia ter em uma virtual transição entre o momento atual e as eleições de 2022. Se o presidente não se adequar, a sucessão dos acontecimentos poderia tornar o impedimento um caminho inevitável. O Planalto estaria flertando com o perigo.”

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Em relatório, o analista Victor Guglielmi, da Guide Investimentos, lembra que Lira é o único que pode abrir um processo de impeachment contra o presidente. “Lira deixou claro que não é essa a intenção, mas o discurso foi uma nítida ameaça ao presidente, que se recusa a ajustar o seu discurso em torno do isolamento social, a preeminência das vacinas e os tratamentos precoces.”

E essa animosidade não surge ao acaso. “Por que todo mundo inflou a crítica agora, se os erros do presidente na condução da pandemia já estavam presentes?”, questiona Fabio Klein, economista da Tendências. “Por uma confluência de fatores. Teve a carta aberta dos economistas, a entrada de Lula no páreo e a pandemia, que não é um fato novo, mas que agora atingiu um novo patamar de gravidade”, completa.

O Brasil acaba de registrar 300 mil mortes pela Covid-19, sendo o único país do mundo a passar dessa marca, além dos Estados Unidos, que tem uma população superior à brasileira. Hoje, o país é responsável por 11% dos óbitos por coronavírus em todo o mundo.

“Enquanto o presidente falava em tratamento precoce e criticava o lockdown, mas o número de mortes era inferior ao do resto do mundo, a classe política não se preocupava tanto. Mas com o Brasil virando o epicentro da pandemia e a população assustada, esse discurso começou a gerar atrito. Então Lira quis mostrar que eles não estão com o governo nessa piora da pandemia“, afirma Victor Hasegawa, gestor da Infinity Asset.

Em relatório divulgado nesta quinta-feira, a Levante Ideia de Investimentos, vai na mesma linha. “O Centrão, como grupo político, compõe a base aliada do governo, mas jamais estaria disposto a eventualmente compartilhar o ônus de um desastre na gestão da pandemia.”

Mudança de rumo

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Com o presidente sob pressão, economistas e analistas alertam para algumas mudanças importantes nos cenários político e econômico.

“Ao perceber o presidente mais acuado, o Centrão ‘vai na jugular’. Os parlamentares se sentem mais confortáveis para peitar o Executivo e a agenda passa a ser pautada pelo Congresso e não pelo presidente”, diz Fabio Klein, da Tendências.

Se de fato o Centrão tomar a dianteira, a dúvida que fica é: qual seria a agenda liderada pelo Congresso? Ainda que os parlamentares tenham dado sinais de que apoiam uma pauta mais liberal, Klein acredita que, com as eleições de 2022 se aproximando e o aumento da pressão de governadores sobre os parlamentares aliados por mais gastos e emendas, medidas de ajuste fiscal perdem espaço.

“A Tendências avalia que o espaço para reformas até 2022 acabou. Com a pandemia piorando, a economia fica ainda mais atrasada e aumenta a necessidade de proteção social. Não esperamos qualquer medida reformista, acreditamos mais em um risco e piora, com afrouxamento dos gastos e Bolsa andando de lado”, diz Klein.

Sergio Vale, economista-chefe e sócio da MB Associados, também não vê mais reformas acontecendo até 2022. “O recado foi dado ontem pelo Lira. Está nas mãos do presidente de fato mudar ou não. Mas como é muito grande a chance de ele não mudar, é provável que tenhamos muita tensão nos próximos dois meses, mais gastos e Bolsa de lado mesmo”, diz.

Ontem, ao falar sobre o sinal amarelo e os remédios políticos, o presidente da Câmara disse que diante da atual situação da pandemia a melhor resposta que os parlamentares poderiam dar seria “fazer um freio de arrumação” até que “qualquer outra pauta pudesse ser novamente colocada em tramitação”. Para Victor Hasegawa, da Infinity, Lira deixou claro que o Congresso deve focar em medidas de combate à pandemia, deixando as reformas de lado por ora.

“No curto prazo, essa pauta do Congresso de só olhar para a pandemia tende a ser ruim porque pode significar mais aumento de gastos. O dólar tende a ficar pressionado e juros e Bolsa também tendem a sofrer no curto prazo. Enquanto a pandemia não der sinais de melhora, o Ibovespa não deve avançar, a depender do mercado lá no exterior. Estou neutro para negativo com as ações no curto prazo”, afirma o gestor da Infinity.

Apesar do pessimismo para os próximos meses, Hasegawa discorda de Klein e Vale e acha que há chance de avanço na pauta das reformas antes da eleição de 2022. “Até três semanas atrás, parecia que o Centrão ia tocar a Reforma Administrativa e o Lira falava em Pacto Federativo. Agora é ver como o relacionamento de Lira e Bolsonaro vai sair da pandemia. Não acredito que a relação tenha sido muito prejudicada, acho que com a vacinação melhora, e eles voltam a falar em Reforma Administrativa.”

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